plinio 6c0221895 - 1975

Plínio Salgado (São Bento do Sapucaí, 22 de janeiro de 1895 — São Paulo, 8 de dezembro de 1975) foi um político, escritor, jornalista e teólogo brasileiro que fundou e liderou a Ação Integralista Brasileira (AIB), partido de extrema-direita inspirado nos princípios do movimento fascista italiano.

Inicialmente um adepto da ditadura de Getúlio Vargas, foi mais tarde preso e obrigado a se exilar em Portugal, acusado de promover levantes contra o governo. Após retornar ao Brasil, lançou o Partido de Representação Popular (PRP), sendo eleito para representar o Paraná na Câmara dos Deputados em 1958 e reeleito em 1962, desta vez para representar São Paulo. Foi também candidato à presidência da República no pleito de 1955, obtendo 8,28% dos votos. Após o Golpe de Estado de 1964, que acabou por extinguir os partidos políticos, se juntou à Aliança Renovadora Nacional (Arena), obtendo mais dois mandatos na Câmara. Se aposentou da vida política em 1974, apenas um ano antes de sua morte. Foi membro da Academia Paulista de Letras, tendo também fundado alguns jornais.

Nascido na pequena cidade de São Bento do Sapucaí, Plínio Salgado era filho do coronel Francisco das Chagas Salgado e de professora Ana Francisca Rennó Cortez, com quem aprendeu as primeiras letras.

Sua família era de origem portuguesa.

Plínio era uma criança muito ativa na escola, tendo desenvolvido gosto por matemática e geometria. Aos dezesseis anos de idade, seu pai veio a falecer – fato que, de acordo com alguns relatos, o transformaram num jovem amargo. Após o acontecimento, Plínio, demonstrou grande interesse por filosofia e psicologia.

Aos 20 anos de idade, Plínio fundou o jornal semanal Correio de São Bento.

Dois anos mais tarde, em 1918, ele começou sua carreira na política, ao participar da fundação do Partido Municipalista, que congregava líderes municipais de cidades do Vale do Paraíba.

No mesmo ano, Plínio casou-se com Maria Amélia Pereira e, no dia 6 de julho de 1919, nasceu sua única filha, Maria Amélia Salgado.

Quinze dias mais tarde, sua mulher, Maria Amélia Pereira faleceu. Deprimido, rejeitou o estudo de filósofos materialistas e buscou conforto na doutrina católica, se interessando por escritos de autores católicos brasileiros como Raimundo Farias Brito e Jackson Figueiredo.

Mais uma vez, a morte de um ente querido traria grande impacto à vida de Plínio. Ele só se casaria novamente 17 anos depois, com Carmela Patti.

Através de seus artigos no Correio de São Bento, Plínio se tornou conhecido entre os jornalistas da cidade de São Paulo, fato que levou-o a ser convidado para trabalhar no Correio Paulistano, jornal oficial do Partido Republicano Paulista (PRP), em 1920.

Ali, onde atuou primeiro como revisor e depois como redator, se tornou amigo do poeta e escritor Menotti del Picchia.

Em 1922, Plínio participou discretamente da Semana de Arte Moderna.[1] Em 1924, deixou o Correio Paulistano e empregou-se no escritório de advocacia de Alfredo Egídio de Sousa Aranha, com quem manteria vínculos duradouros.

Publicou seu primeiro romance, O Estrangeiro, em 1926.

Depois disso, na companhia de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Cândido Mota Filho, alinhou-se ao movimento Verde-Amarelo, vertente nacionalista do modernismo. No ano seguinte, ao lado de Ricardo e del Picchia, fundou o Grupo da Anta, que exaltava os indígenas, em particular os tupis, como verdadeiros portadores da identidade nacional brasileira.

No mesmo ano, lançou Literatura e política, livro no qual defende idéias nacionalistas de cunho fortemente anti-liberal e pró-agrário, inspirando-se nas obras de Alberto Torres e Oliveira Viana.

No livro, se declara anticosmopolita, defensor de um Brasil agrário e contrário ao sufrágio universal.

Essa sua guinada à direita fez com que Ricardo fundasse, em 1937, ao lado de del Picchia, o Grupo da Bandeira, um resposta social-democrata ao Movimento Verde-Amarelo e ao Grupo da Anta.

Integralismo

Ver artigo principal: Ação Integralista Brasileira

Sessão de encerramento do Congresso Integralista. Plínio Salgado encontra-se sentado ao centro. Blumenau, 1935.

Em 1928 foi eleito deputado estadual em São Paulo pelo PRP.

Em 1930, apóia a candidatura de Júlio Prestes contra Getúlio Vargas.

Em seguida, sem terminar o mandato de deputado, viajou à Europa como tutor do filho de Sousa Aranha, tendo se impressionado com a Itália fascista de Benito Mussolini.

De volta ao Brasil em 4 de outubro de 1930, um dia após o início da Revolução de 1930, que depôs o presidente Washington Luís, escreveu dois artigos no Correio Paulistano defendendo o governo dele.

Contudo, com a vitória dos revolucionários, passa a apoiar o regime instaurado por Vargas, tendo inclusive redigido o manifesto da Liga Revolucionária de São Paulo, organização de apoio a Vargas liderada por Miguel Costa e João Alberto.

Em junho de 1931, tornou-se redator de A Razão, jornal então recém-fundado por Sousa Aranha na capital paulista.

Nele, desenvolveu campanha intensa contra a constitucionalização do Brasil.

Como resultado, atraiu a ira de ativistas contra a ditadura, que atearam fogo à sede do jornal pouco antes da eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932.

Em fevereiro de 1932, Plínio fundou a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), que congregava os principais intelectuais simpáticos ao fascismo.

Meses depois, ele lança o Manifesto de Outubro, que apresentava as diretrizes para a fundação de um novo partido político, a Ação Integralista Brasileira (AIB).

Em fevereiro de 1934, no I Congresso Integralista, em Vitória, Plínio confirmou sua autoridade absoluta sobre a entidade recém-fundada, tendo recebido o título de "chefe nacional" da AIB.

Membros da AIB fazendo a saudação romana em manifestação pública em 1935.

Apesar de rejeitar publicamente o racismo, Plínio adaptou quase todo o simbolismo do fascismo, como os uniformes verdes dos militantes, manifestações de rua altamente arregimentadas e uma retórica agressiva. A ideologia da AIB era tão próxima do nazi-fascismo, que chegou a dividir a mesma sede com o Partido Nazista em cidades como Rio do Sul.

O movimento era financiado diretamente, em parte, pela Embaixada Italiana.

Como características próprias do movimento, a saudação romana era acompanhada pelo grito da palavra tupi Anauê, que significa "você é meu irmão", enquanto a letra do alfabeto grego sigma (Σ) servia como símbolo oficial da AIB.

Deve-se notar que, apesar de Plínio rejeitar o racismo e o antisemitismo, muito dos militantes do partido adotavam idéias racistas. Em 1936, durante um desfile de militantes integralistas, centenas de negros foram espancados no centro do Rio.

A AIB tinha como base de apoio imigrantes italianos, grande parte da comunidade portuguesa, as classes alta e média e militares, especialmente na Marinha. Conforme o partido crescia, Vargas tinha no integralismo sua única base de apoio mobilizada no espectro da direita, que se extasiava com sua repressão de cunho fascista contra a esquerda brasileira.

Em 1934, o movimento integralista decidiu perseguir membros do Partido Comunista – à época sob a liderança de Luís Carlos Prestes enquanto partido ilegal – mobilizando uma massa conservadora para se envolver em brigas de rua e em terrorismo urbano. Em 1937, Plínio lançou sua candidatura presidencial para a eleição prevista para ocorrer em janeiro de 1938.

Ciente da intenção de Vargas de cancelar as eleições e se perpetuar no poder, ele apoiou o golpe do Estado Novo, esperando fazer do integralismo a base doutrinária do novo regime, uma vez que Vargas teria lhe prometido o Ministério da Educação no novo governo.

O presidente, no entanto, baniu a AIB, dispensando-lhe o mesmo tratamento que deu aos demais partidos políticos após transformar o Brasil num país de sistema unipartidário.

No ano de 1939, militantes integralistas tentariam por duas vezes, nos meses de março e maio, promover levantes contra o governo.

Apesar de negar participação nos eventos, Plínio foi preso após o levante de maio – sendo aprisionado na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói –, e cerca de um mês depois enviado para um exílio de seis anos em Portugal.

Durante o período de exílio forçado, procurou com persistência reabilitar sua imagem com o governo Vargas, elogiando-o em diversos manifestos, inclusive quando da declaração de guerra do Brasil à Alemanha e à Itália.

Após o exílio

Plínio retornou ao Brasil em 1945, com o fim do regime do Estado Novo, quando fundou o Partido de Representação Popular (PRP), com o intuito de reformular a doutrina integralista.

Para o historiador Gilberto Calil, em matéria publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional, durante essa época "os integralistas fizeram um enorme esforço para esconder seu passado fascista e passaram a se apresentar como defensores da democracia".

Ainda impulsionado pela ambição de se tornar presidente, Plínio concorreu no pleito de 1955 sob sua nova sigla, obtendo apenas 714 mil votos (cerca de 8% do total).

Após o pleito, Plínio apoiou a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek, o que era contestado pela União Democrática Nacional (UDN), sendo nomeado por ele diretor do Instituto Nacional de Imigração e Colonização.

Mais tarde, em 1958, foi eleito para representar o estado do Paraná na Câmara dos Deputados.

Ele seria reeleito em 1962, desta vez para representar o estado de São Paulo.

Dois anos mais tarde, foi um dos oradores na Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo, movimento que se opunha ao presidente João Goulart.

Plínio apoiou o Golpe de Estado de 1964 que depôs Goulart e, com a introdução do sistema bipartidário, migra para a Aliança Renovadora Nacional (Arena) junto com boa parte dos militantes do PRP, obtendo mais dois mandatos de deputado federal.

Prestigiado entre os militares, chegou a escrever compêndios de Educação Moral e Cívica durante o regime.

Em 1974, decide se aposentar da vida pública.

Plínio Salgado morreu no ano seguinte, aos 80 anos de idade, em São Paulo, tendo sido enterrado no Cemitério do Morumbi.

Crenças

No centro do pensamento social e político de Plínio Salgado, está o "homem integral". Nele se alicerça a sua doutrina do integralismo brasileiro.

"Acima dos regimes, que tudo prometem, existe o próprio homem, cuja personalidade cumpre preservar, e acima do homem existe o seu criador, para cujo seio devemos dirigir os nossos passos na terra, através de tão curta passagem por este mundo", escreveu.[14] Ainda de acordo com seu pensamento, "a pessoa humana (...) é ponto de partida e de chegada de todas as cogitações sociais e políticas, o fundamento dos grupos naturais, a fonte do direito e da independência das nações".

Plínio Salgado combateu o que considerou concepções "mutiladoras" ou "unilaterais" do homem, com destaque para o individualismo, o coletivismo e o estatismo. Essas concepções provinham de várias fontes: de um lado, havia o pensamento proveniente de Jean-Jacques Rousseau e de forma geral dos Enciclopedistas; de outro, o "otimismo liberalista de Locke"; e, de outro lado ainda, o "pessimismo totalitarista" de Hobbes. Ele entendia o individualismo como partindo de Rousseau e terminando em Nietzsche, nele se incluindo tanto o positivismo de Comte, como o evolucionismo e o pragmatismo de William James.

Para ele, o coletivismo provinha também de Rousseau, desembocando em Marx, enquanto o totalitarismo provinha sobretudo de Hobbes.
Para Plínio Salgado, a consequência dessas concepções "mutiladas" do homem é a produção de monstros: "O monstro indivíduo, o monstro coletividade, o monstro Estado, o monstro raça, o monstro liberdade."

Crítica literária a Plínio Salgado

Em 1926, o escritor Monteiro Lobato, em artigo referente ao romance O Estrangeiro, de Plínio Salgado, diz que "Plínio Salgado consegue o milagre de abarcar todo o fenômeno paulista, o mais complexo do Brasil, talvez um dos mais complexos do mundo, metendo-o num quadro panorâmico de pintor impressionista". Também observa que "todo o livro é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem verniz, sem lixa acadêmica – só força, a força pura, ainda não enfiada em fios de cobre, das grandes cataratas brutas", terminando dizendo que "Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar".

Da mesma maneira, o crítico literário Wilson Martins considerou O Estrangeiro como a maior realização romanesca da década de 1920 no Brasil, ao lado de O Esperado, também de Plínio Salgado.

Já o escritor baiano Jorge Amado apresenta uma visão diferente da obra literária de Plínio Salgado em O cavaleiro da esperança, biografia do líder comunista Luís Carlos Prestes:

Nunca, em todo mundo, incluindo o futurismo de Marinetti no fáscio italiano, incluindo as teorias árias do nazismo alemão, nunca se escreveu tanta idiotice, tanta cretinice, em tão má literatura, como o fez o integralismo no Brasil. Foi um momento onde maior que o ridículo só era a desonestidade. Plínio Salgado, führer de opereta, messias de teatro barato, tinha o micróbio da má literatura. Tendo fracassado nos seus plágios de Oswald de Andrade, convencido que não nascera para copiar boa literatura, plagia nesses anos o que há de pior em letra de fôrma no mundo. É a literatura mais imbecil que imaginar se possa.

Obras publicadas
O Estrangeiro
A Vida de Jesus
O Esperado
O Cavaleiro de Itararé
A Voz do Oeste
Doutrinas e Táticas do Comunismo
Integralismo Perante a Nação
Madrugada do Espírito
O Que é Integralismo
Psicologia da Revolução
Quarta Humanidade
Sacerdos, O Homem Integral e o Estado Integral (Uma introdução à filosofia política de Plínio Salgado), São Paulo, Editora Voz do Oeste, 1987.

Arquivo Plínio Salgado

Os documentos de Plínio Salgado se encontram hoje sob a guarda do Centro de Documentação e Memória (CEDEM) da Universidade Estadual Paulista (Unesp).