A expressão “arte clássica” acha-se sujeita, como tantas outras que compõem a terminologia da crítica de artes plásticas, a interpretações quase sempre dúbias e não raro errôneas.
A rigor, clássica é somente a arte grega do século de Péricles e a romana do tempo de Augusto. Por extensão, toda a arte grega e romana é assim denominada, se bem que tanto uma como a outra comportem períodos não-clássicos: de formação (arcaico), da exacerbação romântica, do predomínio do decorativismo barroco.
A arte da Renascença Italiana, que novamente pôs em voga os ideais clássicos da harmonia e da proporção, chama-se igualmente arte clássica, embora os mestres italianos dos séculos XV e XVI tenham por vezes escolhido como modelos artistas que somente em sentido muito amplo podem ser considerados, eles próprios, clássicos. O grande crítico de arte alemão Wölfflin dedicou mesmo à Renascença Italiana um livro significativamente chamado Die Klassische Kunst (“Arte Clássica”, 1899), no qual estuda os antecedentes do Romantismo, a obra de Leonardo, Michelangelo, Rafael, Fra Bartolommeo e Andréa Del Sarto, os novos ideais, a nova beleza e as novas formas pictóricas. Foi ainda Wölfflin quem, em seu volume Kunstgeschichtliche Grundbergriffe (“Princípios Fundamentais da História da Arte”, 1915), estabeleceu os cinco conceitos opostos, indicadores dos dois pólos entre os quais oscilou, sempre, a História da Arte: (a) linear x pictórico; (b) plano x recessão; (c) forma cerrada x forma aberta; (d) multiplicidade x unidade; (e) claridade relativa x claridade absoluta do motivo.
A primeira coluna indicaria as qualidades essenciais do Classicismo – não só da arte clássica da Renascença, como de qualquer tempo ou lugar; a segunda, as características anti-clássicas, ou barrocas (no caso particular de Wölfflin), por exemplo.
Também com relação à arte que sucedeu ao rococó, no século XVIII, foi utilizada a expressão arte clássica, precedida, é verdade, do prefixo neo (arte neoclássica, portanto).
Essa arte neoclássica deriva igualmente da Antiguidade Clássica.
Tal como o Barroco se opõe à arte clássica da Renascença, terminando por impor-se, o Romantismo entrará em choque com o Neoclassicismo, em princípios do século XIX, dominando-o. não quer isso dizer, contudo, que o Classicismo tenha então desaparecido definitivamente, pois em verdade o Classicismo corresponde a uma atitude perene do temperamento artístico, tal como o Romantismo.
Em todas as épocas existiram artistas clássicos em oposição aos românticos, ou apolíneos, opostos aos dionisíacos. A linha clássica francesa de um Poussin foi continuada, no século passado, por Degas, e acha-se hoje representada na obra de Georges Braque, guardadas as diferenças estilísticas entre as épocas.
O apogeu de um estilo artístico é também chamado por vezes de clássico. Nesse sentido é possível falar de um classicismo na arte do Benin, alcançado durante os séculos XVI e XVII.
Vulgarmente, clássico é todo pintor ou escultor de obra passada em julgado. Clássicos em tal sentido são não apenas Praxíteles ou Rafael, mas Rembrandt, Jheronimus Bosh ou Goya.
Os acadêmicos atuais chamam-se a si mesmos de clássicos, pretendendo continuar o espírito clássico da Renascença, quando em realidade não passam de conservadores da pintura realista do século passado.