Natália Tsarkova é uma pintora misteriosa e pouco conhecida na sua pátria, a Rússia. Ela encontrou o seu lugar sob o sol em Roma. É a primeira mulher a receber o título de retratista oficial do Papa, ressaltando-se que ela é ortodoxa, por isso, o nível do respeito do Vaticano para com a russa é incrível.
Ela nunca teve problemas por não ser católica, pois isso não interferiu na forma como foi considerada e respeitada em sua arte. Ademais, como mencionou em algumas ocasiões, ela sempre sentiu a arte como o elemento de ligação que faltou nas relações entre as confissões e expressou tal consideração em sua atividade.
Nasceu em 1967, em Moscou. Estudou na Escola da Arte Krasnopresnenskaya, depois continuou no Liceu Acadêmico de Arte de Moscou. Ao mesmo tempo, entrou na Academia de Ilhia Glazunov e, estudando no curso de Glazunov, era a única mulher, mas distinguiu-se como a melhor estudante na turma de retrato. Atualmente, desde 1994, vive e trabalha em Roma.
No início, ninguém na Itália sabia o seu nome, mas, umas pinturas que ela levou consigo atraíram atenção dos italianos e imediatamente se dispersaram para as coleções privadas. Logo começaram a aparecer encomendas para retratos de aristocratas, políticos, artistas e italianos ricos. Porém, a verdadeira glória em sua carreira ocorreu depois de pintar dois retratos do Papa João Paulo II.
O Vaticano os reconheceu como as imagens oficiais do Pontífice. Assim, a artista russa Natália Tsarkova tornou-se única no mundo da pintura, pois teve o privilégio de pintar os retratos de três Papas: João Paulo I (subiu ao trono em 1978 e morreu 33 dias depois); João Paulo II (Pontificado de 1978 a 2005) e Bento XVI (Pontificado de 2005 a 2013). Agora, a artista está trabalhando em um retrato do Papa Francisco (Início do Pontificado em 19 de março de 2013).
Por uma coincidência incrível, o estúdio de Natália Tsarkova está localizado em um dos bairros mais “russos” de Roma, perto de praça Barberini. A dois passos fica a casa em que viveu Gógol (escritor realista russo – 1809/1852), quando trabalhou em “Almas Mortas”. Do outro lado da rua fica o apartamento de Karl Briullov, que pintou em Roma “Os Últimos Dias de Pompéia”. Da mesma forma, dois outros grandes nomes da arte russa também viveram perto de Barberini: Alexander Ivanov (pintor russo do neoclassicismo – 1806/1858) e Orestes Kiprensky (retratistas russo – 1782/1836).
O lugar central do estúdio dela, completamente decorado com pinturas, é dedicado a obra “A Última Ceia”. Este trabalho, no entanto, Natalia não quer vender, apesar das ofertas inúmeras de museus e colecionadores privados. É uma obra monumental, com dimensão de 2,20 x 1,50, que se tornou um marco no seu trabalho.
A pintura surpreende com a sua solução artística de um dos acontecimentos mais famosas no mundo religioso. A esta imagem da artista russa foi dada uma honra especial: sua primeira “Mostra” oficial foi realizada no refeitório de Santa Maria delle Grazie, em Milão, ao lado da obra famosa “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. A primeira vez que a obra foi apresentada, no entanto, deu-se em Roma, antes da Páscoa, e foi abençoada como a mensagem de paz pelo Papa João Paulo II.
Na cerimônia em Milão, o tecido vermelho foi arrancado pela artista Tsarkova e pelo Curador da Biblioteca e dos Arquivos da Igreja Católica Romana, o cardeal George Maria Mejia, que foi ao Vaticano especialmente para isso. Depois, ele elogiou as virtudes do quadro e observou uma conexão espiritual entre os dois autores das versões de “A Última Ceia”: o grande Leonardo da Vinci e a mulher russa, Natália Tsarkova.
Na Itália, a pintura foi chamada “A Última Ceia do Terceiro Milênio”. No Afresco de Leonardo, Cristo olha para o pão, enquanto o Cristo dos outros pintores olha para o céu. Na pintura da Tsarkova, Cristo olha para o mundo, com um olhar triste, mas cheio de amor. Ele olha para cada um de nós! Ele olha dentro das nossas almas!
Tsarkova retratou a si mesma no canto esquerdo de quem olha para a pintura, como uma criada a olhar através da porta aberta. Isto é incompatível com os cânones tradicionais da “Ceia”, mas ela queria, assim, enfatizar a conexão da obra com os dias de hoje. Isto é o olhar do terceiro milênio.
Os papeis dos apóstolos foram desempenhados pelos amigos e conhecidos italianos de Natália. Por exemplo, a pessoa posando o Cristo é Peppi Morja, light-designer (designer de iluminação / desenhista de luz). Foi ele quem criou a iluminação para a Fonte de Trevi. Judas é o estilista Gillermo Mariotto. O advogado Vittore Cordella dou o seu perfil nobre e cabeça com cabelos grisalhos para St. André. São João foi representado pelo conde Andrea Marini. Filipe, pelo professor de arquitetura, o conde Dário del Bufalo. Os modelos para as imagens de Simão, Tadeu e Tomás foram, respectivamente, o Grão Prior da Ordem de Malta, Franz von Lobshtayn; o conde Romano del Forno e o príncipe Nicolo Borghese.
Em 2008, ela recebeu a encomenda para pintar o retrato oficial do Beato Padre Giacomo do Líbano. Esta pintura foi abençoada pelo Papa no Vaticano e foi colocada na igreja de Santa Maria del Mars, em Beirute, onde ficam as relíquias do Santo.
Como visto, Tsarkova não é apenas uma retratista, tendo sido requisitada para pintar imagens de Beatos e Santos e, entre as suas obras conhecidas deste tipo, o lugar muito significativo pertence ao retrato da freira missionária italiana Beata Assunta Marchetti. Ela contribuiu para a fundação da Organização das Irmãs Missionárias de São Charles Borromeo e suportou a obediência no Brasil, tendo sido beatificada em São Paulo, no dia 25 de outubro de 2014. Seu retrato está pendurado na Catedral de São Paulo. Ela é uma artista multilateral, que, além de retratar Papas e Santos, também retratou Chefes de Estado, famílias reais e temas bíblicos.
A expressão de Natália Tsarkova para a pintura russa e mundial demonstra como a arte pode ser uma porta, uma janela, um elo entre culturas, sociedades, povos e líderes.
Suas pinturas têm uma energia profunda especial que não deixa ninguém indiferente. São um reflexo vivo da alma russa, sempre em busca de auto-expressão e da criação de pontes entre os povos do mundo.