ão Paulo - Foi na década de 60 que a produção artística brasileira atingiu um novo patamar - pinturas se contaminaram por outros meios, a fotografia deixou de ser apenas um ponto de partida para as obras, assim como foram incorporados cortes, colagens, assemblages e apropriações e surgiram as instalações, os vídeos, até chegar ao que atualmente podemos identificar como uma arte virtual, interativa, tecnológica. De maneira cronológica, a exposição A Subversão dos Meios, que será inaugurada hoje, no Itaú Cultural, traça o percurso dessa transformação sem fim, com o objetivo de ser uma mostra didática, como diz a curadora Maria Alice Milliet.
Na entrada da exposição, o visitante verá uma tela de Claudio Tozzi, A Multidão, de 1968. A partir de uma foto ampliada de um aglomerado de pessoas, o artista realiza a pintura: é uma tela, afinal. Sinaliza um novo (naquela época) tipo de procedimento. Mas, antes dela, na montagem da mostra, há uma fotografia em cores feita por Lucia Koch em 2001 e que traz o fundo de uma caixa de papelão ampliada. O aspecto parece ser de um outro espaço que não o interior de uma caixa. É a fotografia como meio de mostrar a criação de um espaço artificial, identificada como obra mesmo. Essa é uma descrição rasa, mas traça o perfil da mostra, que reúne cerca de 230 trabalhos de 94 artistas e tem curadoria-adjunta de Nancy Betts.
A fotografia e as apropriações são os motes dos trabalhos das décadas de 60 e 70. Nos primeiros anos desse período, os trabalhos incorporam a cultura de massa, começa um "distanciamento do que era erudito e popular", diz a curadora. Um pouco mais adiante, os anos 70, outra realidade, a ditadura. Protesto e crítica impulsionam as obras como se pode ver nos trabalhos de Antonio Dias, Antonio Manuel e José Resende, por exemplo. Apesar de ser também o começo das instalações, Maria Alice não quis privilegiá-las, mas sim obras que tratam de imagens. Há trabalhos fotográficos como Evolução/Revolução, de Júlio Plaza. E ainda sobre o tema mercadoria e massa, o trabalho em que um aparelho de TV está coberto com um lençol, de Artur Barrio.
Já no outro segmento da mostra, que mescla anos 80 e 90, está a fotografia e, como subtema, o corpo. Em meio a trabalhos de Rosângela Rennó, Rochelle Costi, Tunga, Miguel Rio Branco e Cris Bierrenbach, Adriana Varejão e Cássio Vasconcellos, entre outros, surge a série, Narcisse, de Hudinilson Jr. No início dos anos 80, ele subia em uma máquina de xerox para registrar seu próprio corpo. E, por fim, no último segmento, prevalece a tecnologia. Em meio a projeções de imagens, vídeos, um serpentário virtual acionado pela internet, de Diana Domingues, e uma instalação interativa computadorizada, de Gilberto Prado, há obras poéticas como os céus com "data de validade" de Maristela Cabello, um luminoso de Carmela Gross. Tudo ao mesmo tempo, reunido para mostrar a "vocação experimental da arte contemporânea".
A Subversão dos Meios. De terça a sexta, das 10 às 21 horas; sábado, domingo e feriado, das 10h às 19 horas. Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, tel. 3268-1776. Abertura hoje, às 19h30, para convidados. Às 21 horas, performance com Luiz Duva.
Camila Molina