Com 270 obras divididas em artes plásticas, esculturas, acervo impresso e poesia, a exposição Portugal e Portugueses de arte contemporânea abre alas para 40 artistas mostrarem as mesclas de saudosismo, encantamento e invenção entre Brasil, África e a própria Portugal.
"Foi um trabalho de garimpagem de quase dois anos de idas e vindas, fazendo essa composição (...) Estava pensando em Portugal por ser um país com laços enormes com no Brasil e participação na África, e gostaria que a exposição refletisse esse lado multicultural da arte portuguesa e de suas influências", explicou o diretor fundador do Museu e curador da exposição, Emanoel Araújo.
De acordo com a organização, esta é a maior mostra de arte contemporânea portuguesa apresentada nos últimos anos no Brasil, e o local escolhido foi o Museu Afro Brasil, em São Paulo, justamente por ser uma exposição que traz à tona influências de raiz e de colonização para a obra de portugueses como Raul Bordalo.
Bordalo é homenageado por seus 170 anos como um dos grandes nomes da escultura e caricatura crítica de Portugal, tendo em sua obra grande assimilação da biodiversidade brasileira, já que morou no país e utilizou influências presentes no acervo de esculturas exposto.
Outros nomes contemporâneos também têm espaço cativo na mostra, entre eles Miguel Palma, que mistura madeira, metal, instalações eletrônicas, água e vidro. Já no uso de esmalte e silkscreen sobre o papel, algo psicodélico e delicado ao mesmo tempo, estão expostas as artes de Julião Sarmento.
Em uma outra parede está o "Arco do Triunfo", uma silhueta de um menino construída com moedas brasileiras. Esta obra é a visão do artista Nuno Ramalho sobre si, mas que, segundo ele, pode ser interpretada como uma representação da situação de crise pela qual o país atravessa.
Na mesma ala convive o "Coração Independente", de Joana Vasconcelos, feito de facas plásticas vermelhas e pontiagudas em movimento ao som do fado clássico português. É a instalação mais fotografada da mostra.
A riqueza da mescla de fotografias, artistas, poesia e instalações ilusórias chamam a atenção para artistas que convivem com a história da formação de Portugal, Brasil e África, eixo geográfico nomeado pelo curador de "Triângulo da Invenção".
Segundo o curador na apresetação da exposição "Portugal é um sentimento eterno de desejos não cumpridos, de saudades sem explicação e de sangue nas veias".
"É uma exposição muito original, pois ela toca em nós brasileiros pela nossa aproximação com Portugal, ela toca com algumas obras que são importantes, enfim, ela tem múltiplas visões que se emendam e falam umas com as outras", disse.
Entre Camões e Fernando Pessoa, estes 40 artistas conseguem transmitir para além das fronteiras portuguesas um espírito de unidade entre jovens e velhos artistas, surrealismo, expressionismo e cubismo convivendo em um único quadro, ao mesmo tempo que tons escuros com as cores vivas da brasilidade.
Um outro espaço de destaque é o painel da artista Yomani, que utilizou torradas decorativas para montar uma das obras preferidas das crianças que frequentam a mostra, que segue até 8 de janeiro em São Paulo.
A exposição faz parte de uma trilogia de mostras que visa mostrar a multiculturalidade entre os três povos. A próxima exposição terá como tema a arte indígena e está prevista para 2017, de acordo com o curador.