Mesmo com a alta procura por museus e exposições, galeristas calculam queda nas vendas de obras nacionais. Solução tem sido apelar para as exportações. Edição deste ano da ArtRio veio menor por causa da crise.

artrio b878cDificuldade financeira obrigou organizadores a enxugarem a ArtRio, uma das principais feiras de arte do país

O mercado brasileiro de arte contemporânea vem sendo seguidamente desafiado desde que a crise econômica se intensificou. Mesmo com a alta procura por exposições e museus, o volume de negócios na venda de obras despencou e forçou galeristas e artistas a procurarem no mercado externo um público novo para seus produtos. Inaugurada em 2001, a galeria Fortes Vilaça, que apresenta exposições de artistas brasileiros e estrangeiros, foi uma das que sofreram forte impacto. Foram perdas em torno de 30% nos últimos meses. No entanto, na visão de Alessandra d´Aloia, sócia e diretora do espaço, essa queda serviu para que o mercado se reinventasse:

"Houve uma queda no volume de negócios, mais ou menos em torno de 30%. É uma coisa real. Eu acho que foi até benéfico porque o mercado ficou mais enxuto, mas mais consciente sobre o que está acontecendo,. Hoje não se produz tanto. Ele é mais sucinto, mais sólicdo. Isso é necessário para que você amadureça o seu negócio", explica.

Alessandra trouxe ao Rio de Janeiro, nesta semana, uma série de trabalhos de jovens artistas para a Feira Internacional de Arte do Rio, a ArtRio. Mais exuta, a sexta edição do evento priorizou obras mais acessíveis. Ao todo, foram sete galerias a menos do que no ano passado. As baixas incluem pesos-pesados como a londrina White Cube e a catalã Mayoral, que em 2015 apresentou um dos estandes mais visitados, repleto de obras de Dalí e Miró. O número de galpões também diminuiu de cinco para quatro. As exposições com curadoria foram canceladas. Segundo a diretora da feira, Brenda Valansi, o evento teve que se enquadrar às exigências do mercado:

"Foi ter a consciência de que essa crise existe e adequar o tamanho da feira ao que a gente achou que a crise comportava, o tamanho do mercado. O número de galerias que se adequam ao mercado nesse momento que a gente está vivendo", diz.

Por outro lado, é inegável que a arte se popularizou no país. Não é raro o público se deparar com grandes filas em museus e exposições. No ano passado, o Centro Cultural Banco do Brasil do Rio liderou a lista de exposições pós-impressionistas e modernas mais visitadas do mundo, de acordo com o ranking anual publicado no site The Art Newspaper. Entre os dez primeiros nomes da lista, cinco exposições foram realizadas no Brasil. Segundo a coordenadora de projetos da Fundação Getúlo Vargas, Silvia Finguerut, que lançou recentemente o livro "Arte e Mercado no Brasil", o dado é positivo, mas a alta procura não significa diretamente alteração no voume de investimentos do setor:

"O público que a um museus, a um cento cultural nao é o público comprador. O papel dessas instituições é nos educar para a arte. A gente só passa a gostar de arte a artir da nossa convivência com as obras de arte", observa.

Em busca de novos rumos, a solução encontrada está no mercado externo. Segudo um estudo da Associação Brasileira de Arte Contemporânea, o volume de exportações de arte contemporânea brasileira em 2015 atingiu quase R$ 270 milhões, 97,4% a mais que no ano retrasado. Uma das estratégias é estabelecer parcerias com galerias no exterior. Segundo a gerente da associação, Solange Lignau, uma das coordenadoras da pesquisa, esses números são consequência direta de um mercado doméstico enfraquecido:

"Em 2015, o valor de exportação cresceu quase 100% em relação a 2014. Foi o maior valor já registrado desde que a gente está mensurando esses dados. Então, por um lado a gente veê que as galerias estão buscando uma presença maior internacional que poderia ser explicada por um mercado doméstico um pouco enfraquecido", diz.

Para a coordenadora de projetos da FGV Silvia Finguerut, o fato de se tratar de um mercado de luxo, com público restrito, também possibilita uma certa blindagem da atividade em relação aos efeitos da crise:

"Felizmente, o mercado da arte, como ele é movido por forças não tão convencionais, ele até se ressente menos dessa crise. Porque arte é considerada um mercado de luxo. Então, os ricos continuam riscos. Eventualmente, aqueles que foram afesados pela crise, seguem vedendo suas obras de arte."

Segundo o levantamento mais atualizado da Associação Brasileira de Arte Contemporânea, os preços praticados na venda de obras de arte no mercado brasileiro vão de R$ 300 a R$ 1,4 milhão - o que soma uma média de R$ 30 mil por obra.