Muralista Eduardo Kobra põe sua arte na rua, em São Paulo, e faz alerta contra a matança desses animais no Japão

 

Quem passar pela Rua Cayowaá, 802, em Perdizes, São Paulo, vai dar de cara com o mais recente trabalho do muralista Eduardo Kobra. Denominado Mar da Vergonha e dentro do projeto Greenpincel, o mural denuncia o horror do massacre de indefesos golfinhos na pequena cidade de Taiji, na costa meridional do Japão. A obra foi concluída ontem.

No muro, de 10m por 4m, o artista plástico expõe em cores fortes (e tristes) o que pensa sobre a matança desses animais. A crueldade também foi exposta pelo vencedor do Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem no ano passado, o filme The Cove, que mostra os golfinhos sendo apartados numa enseada da ilha e mortos (o que torna o mar daquele lugar vermelho). E o que é pior, na época o prefeito de Taiji argumentou que era preciso “respeito” à cultura deles.

O Mar de Vergonha não é o único trabalho em que Eduardo Kobra expõe questões ambientais e de maus-tratos aos animais. É dele também, com outros artistas do Studio Kobra, o mural Sem Rodeios, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, também na Capital paulista. Ele resolveu fazer o trabalho depois de ficar chocado com as imagens nos jornais e sites do bezerro abatido pelo peão César Brosco durante a 56ª. Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo.

“As imagens dos golfinhos massacrados no Japão, mas também em outros países, são horríveis e nos obrigam a atuar no intuito de transformar o mundo. Não é um sonho imaginar que as pessoas do bem um dia vão se mobilizar e proteger os animais e a natureza como um todo”, afirma.

Kobra esteve quase um mês no Exterior. Chegou ao País no dia 24 de agosto, após concluir seu primeiro mural em Atenas, que havia sido atacado por religiosos, revoltados com o que chamavam de agressão a Deus, que no mural Evolução Desumana, feito em parceria com Agnaldo Britto Pereira, do seu projeto Greenpincel, apareciam imagens da evolução, segundo Charles Darwin.

Sempre respeitei as culturas e as religiões. O meu trabalho é com Arte Urbana e, claro, ele acontece principalmente nas ruas, o que aumenta ainda mais a minha responsabilidade, que minhas obras são vistas por todos os tipos de pessoas. Mas parece-me claro que o fato de não gostar de algum trabalho artístico, por sua qualidade ou temática, não a ninguém o direito de destruí-lo. Se assim o fosse, esses religiosos poderiam entrar no Museu de História Natural de Nova York, onde a evolução da espécies e, principalmente, humana é mostrada de forma realista, e destruírem tudo! Respeitar o direito de expressão é básico na Democracia que, por sinal, começou aqui na Grécia.

Por isso decidimos, ainda que exista algum perigo de um novo ataque ao muro, refazer o trabalho, com algumas modificações estéticas, mas ainda dentro do mesmo tema. Não podemos ceder espaço para os intolerantes”, diz Kobra.

O artista entregou recentemente um novo mural para a cidade de São Paulo, dentro do projeto Greepincel. Fez um chocante mural de “boas-vindas”, chamado Welcome to Amazônia (na Avenida Rebouças, 167, com cerca de 7m X 5m). O cenário mostra um ambiente arrasado. Pouco antes, concluiu o CO2, na Rua Alvarenga, 2.400, com cerca de 10m X 5m, e o Navio Baleeiro (obra crua e forte, baseada em uma cena da caça de uma baleia pelo navio Yushin Maru), na Rua Domingos de Morais, na Vila Mariana.

Segundo Kobra, o projeto Greenpincel pretende denunciar e combater artisticamente as várias formas de agressão do Homem à natureza. “Todas as tragédias naturais que têm acontecido em nosso planeta mostram que proteger os animais e a natureza como um todo é também uma forma de protegermos o ser humano. Particularmente, sou um apaixonado por plantas e animais. São temas que namoro muito tempo e, por isso, decidi que era hora de colocá-los também dentro do meu trabalho como artista”, diz. E recebeu, por isso, convites para intervenções em vários países. Este ano viaja para os Estados Unidos, México e Holanda. Em 2012, para a China.

Quem é Kobra

Muralista e artista plástico, Eduardo Kobra tem 35 anos e nasceu no Estado de São Paulo. Pode-se dizer que ele é um expoente da neo-vanguarda paulista. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo com o pixo e o graffiti, caros ao movimento Hip Hop, e se espalha pela cidade. Com os desdobramentos que a arte urbana ganhou em São Paulo, ele derivou – com o Studio Kobra, criado nos anos 90 - para um muralismo original - inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e no design do norte-americano Eric Grohe - beneficiando-se das características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Suas criações são ricas em detalhes, que mesclam realidade e um certo “transformismo” grafiteiro.  

Fonte: http://eptv.globo.com/