Recife - Francisco Brennand, o artista que já alumbrava os visitantes de sua oficina cerâmica, onde mais de 2 mil esculturas povoam espaços abertos e fechados num ambiente que remete ao sagrado e ao mitológico, vai ampliar a magia que construiu na sua propriedade Cosme e Damião, no bucólico bairro da Várzea. Hoje, ele inaugura o Espaço Cultural Accademia brindando o público com uma rara exposição de pinturas e desenhos, a maioria deles inéditos.
São quase 300 peças, realizadas desde a década de 40, que também incluem esculturas - para a expressão de todas as linguagens do artista -, numa mostra intitulada Brennand: Uma Obra em Perspectiva, com curadoria de Emanoel Araújo, diretor da Pinacoteca de São Paulo entre 1992 e 2002. "A mostra tira da minha pintura esse caráter secreto, inatingível", afirma Brennand. "As novas gerações nem sabem que sou pintor." Aos 76 anos, ele lembra que sua última grande exposição de pinturas foi em 1969, em São Paulo, seguida de outra mostra, 20 anos depois, em que alguns quadros apareciam ao lado de cerâmicas.
A exposição ficará em cartaz durante um ano e as obras não estão à venda. "Pretendo que esse lugar seja um museu definitivo das minhas obras e não se vende o acervo de um museu" explica ele. A Accademia, expressão escolhida para homenagear a Accademia de Veneza, tradicional espaço da arte italiana dos séculos 17 e 18, tem pé-direito duplo, é toda climatizada, com mezanino para biblioteca informatizada e loja. A biblioteca vai dar acesso a todos os livros de arte e sobre arte consultados, pesquisados e acumulados por Brennand nos últimos 60 anos.
Tem ainda um teatro de 128 lugares, com sofisticado sistema de acústica e iluminação, para pequenas representações teatrais, concertos, palestras. Um belo e amplo jardim idealizado por Roberto Burle Marx em 1992. Burle Marx morreu em 1994, antes da sua execução, mas o projeto foi batizado com o seu nome.
Aos 76 anos, para ele maior satisfação que a inauguração da Accademia, é o fato de continuar ativo, produzindo arte. Ele lembra da existência de desenhos, pinturas e esculturas pós-retrospectiva, nascidos muito recentemente, e afirma: "Esse é o meu legado, não um fetichismo de pedra e cal."
Durante a inauguração da Accademia, uma edição de luxo do livro "Brennand Desenhos" será lançada pelo seu amigo e biógrafo Weydson Barros Leal. Com apresentação de Ferreira Gullar, o livro é dividido em 13 capítulos e apresenta 230 desenhos.
Cercada de grades de ferro desenhadas pelo artista, a Accademia representou um investimento de R$ 2 milhões, parte dos quais foi financiada pelo irmão Cornélio. O projeto arquitetônico da Accademia é assinado pelo arquiteto e urbanista Reginaldo Esteves, enquanto a luminotécnica é de Peter Gasper e a acústica da arquiteta Maria Berenice Lins.
Angela Lacerda