Parque Serra da Capiavara, no Piauí, teve de demitir funcionários e pode perder status de Patrimônio da Humanidade
No interior do Piauí, em São Raimundo Nonato, é possível encontrar as pinturas mais antigas já feitas por humanos no Brasil. São desenhos em pedras de mais de 10 mil anos que sobreviveram ao tempo pelo fascínio e pelo medo que causaram nas populações antigas, sejam indígenas ou do período colonial. Essas imagens pré-históricas, entretanto, correm o risco de sumir no tempo por negligência nossa. O Parque Nacional Serra da Capivara, criado para protegê-las, sofre com falta de pessoal e falta de recursos e corre o risco de perder o status de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco.
O parque foi criado no final da década de 1970. Inicialmente, era mais um dos famosos "parques de papel": seus limites foram definidos, o parque foi decretado, mas não tinha pessoal para cuidar da áreas, nem cercas, sedes ou trabalho científico dentro da área delimitada. Isso só foi mudar na década de 1980, quando uma missão de pesquisadores franceses e brasileiros estabeleceu a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), uma organização sem fins lucrativos que até hoje cuida do patrimônio natural e cultural do parque.
A arqueóloga brasileira Niéde Guidon, diretora da fundação, conta que por muitos anos o parque conseguiu se sustentar por meio da Lei Rouanet e por repasses de empresas como compensação ambiental. Quando o governo centralizou os repasses de compensação em um fundo nacional, em 2006, esse recurso começou a ficar mais difícil de se obter. Com o passar dos anos, os orçamentos do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Cultura só diminuíram, e consequentemente o parque passou a receber cada vez menos recursos. O resultado foram as demissões. Como ÉPOCA mostrou no começo do ano, 270 funcionários foram demitidos em 2014. A expectativa é que o parque tenha de funcionar com apenas 20 funcionários – 20 pessoas para cuidar de 100 mil hectares.
A situação de abandono do parque é um grande desperdício ambiental, econômico e científico. O parque, formado por quatro serras na Caatinga, entre elas a Serra da Capivara, tem paisagens belíssimas, conserva espécies importantes de flora e fauna e tem grande potencial para turismo de aventura, com trilhas e escaladas. Mas o que mais impressiona são as pinturas feitas pelos primeiros homens a habitar a América. Esses vestígios arqueológicos estão entre os mais importantes do Brasil, e são peças-chave nos debates sobre a teoria de como o Homo sapiens chegou à América.