ROMA, 23 fev (AFP) - Roma reabilita com uma exposição espetacular a genialidade e a modernidade do célebre pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920) com a exibição de mais de 100 obras, 15 delas nunca apresentadas ao público, para enterrar a lenda do artista "maldito", desprezado em vida por colegas e galerias.

 

 

Alcoólatra e dependente de drogas, excêntrico e belo, Modigliani, que morreu em Paris com apenas 36 anos e cuja obra se reconhece por suas figuras humanas, audazes e estilizadas, foi um artista de vanguarda incompreendido que não conheceu a fama e o sucesso que hoje alcançou, após se tornar um dos pintores mais copiados, amados e populares do século XX.

 

Com curadoria do diretor do Museu de Arte Contemporânea de Lugano, Rudy Chiappini, a mostra, que ficará aberta no Museu Vittoriano entre 24 de fevereiro e 20 de junho, expõe todas as obras conservadas nos museus italianos, além de pinturas não conhecidas emprestadas de importantes colecionadores e museus.

 

uma escultura, uma famosa "testa" (cabeça) de pedra, feita entre 1911 e 1912, que integra a coleção de arte da família Latner, de Toronto (Canadá), ilustra a força e o estilo supermoderno de "Modi", como era chamado por seus amigos, um curioso pseudônimo que em francês também soa como "maldito". "É uma mostra antológica, não temática e com muitas peças raras", como definiu Gianni Borgna, encarregado cultural da prefeitura de Roma, principal patrocinadora da mostra, junto com o ministério da Cultura e da Região de Lazio.

 

Os curadores da exposição romana, a primeira dedicada ao artista em 47 anos na capital italiana, quiseram evitar qualquer escândalo, decidindo expor apenas obras certificadas pela empresa Ambrogio Ceroni, o banqueiro que elaborou, em 1958, o primeiro catálogo da obra de Modigliani e que estabeleceu a existência de uma produção limitada de 300 a 400 óleos.

 

"Nomeamos um comitê de especialistas internacionais para evitar que apareçam obras falsas", revelou Alessandro Nicosia, presidente da Comunicar Organizzando, entidade que coordena a organização do evento.

 

A exposição é inaugurada com as fotos das pessoas mais próximas de Modigliani, entre elas sua esposa Jeanne que, grávida, suicidou-se dois dias depois da morte do artista, o poeta polonês Leopold Zborowski, inspirador de uma série de óleos, e o vendedor Paul Guillaume, um dos poucos que lhe asseguravam a possibilidade de comer diariamente, também retratado em vários quadros.

 

Entre as obras inéditas, surpreende o retrato de "Margarita sentada" (1916), emprestado por um colecionador italiano, ou as figuras pintadas na frente e no verso da tela por causa da falta de recursos e de seu desejo incontido de pintar: "O violinista" e o "Retrato de Constantin Brancusi" (1909).

 

Três maravilhosos nus femininos - um de propriedade da família de industriais italianos Agnelli, fundadora da Fiat -, surpreendem pelo estilo de vanguarda, linear e atual de sua pintura.

 

Com seus rostos tenros, os longos pescoços e os olhos ausentes, as famosas pinturas de um dos maiores artistas modernos europeus mereciam o reconhecimento que Roma agora lhe rende após uma vida consumida pela doença e pela miséria.

 

(Por Kelly Velásquez)