O maior evento de artes do continente retoma suas atividades com vigor e competência, após a profunda frustração deixada pela “Bienal do Vazio” no cenário artístico em 2008.
A edição atual, intitulada "Há Sempre Um Copo de Mar para o Homem Navegar" (Jorge de Lima), propõe discutir a relação entre Arte e Política. Ela foi concebida pela dupla de curadores Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos.
A mostra é formada por cerca de 850 obras de 159 artistas. Embora democrática nos gêneros apresentados, há uma predominância de fotografias e vídeos. A produção artística Brasileira está em destaque, representando um terço da mostra.
Além do espaço para as obras, essa Bienal tem seis “terreiros”, que são lugares destinados à convivência, reflexão, criação e descanso do público visitante. São eles: “O Outro, O Mesmo”, “A Pele do Invisível”, “Dito, Não Dito, Interdito”, “Eu Sou a Rua”, “Longe Daqui Aqui Mesmo” e “Lembrança e Esquecimento”.
Como não podia deixar de acontecer, esta edição também tem obras polêmicas. É o caso do artista Gil Vicente, que mostra em desenhos ele mesmo matando algumas personalidades internacionais, incluindo o presidente Lula.
A questão mais chocante dessa historia é o fato de que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tenta censurar essas obras por considerá-las uma incitação à violência... É um absurdo que se fale em censura, basta uma recomendação classificatória de faixas etárias, como acontece na TV e no cinema.
Entretanto, eu vejo nesses desenhos uma outra questão polêmica que merece maior atenção do que a anterior; o fato da utilização de procedimentos de representação clássica e acadêmica nessas obras, inseridas dentro de uma Bienal de arte contemporânea, a qual, teoricamente, pressupõe a busca e o mapeamento das vanguardas artísticas e dos novos rumos da arte.
Conheço e acompanho com respeito o trabalho de Gil Vicente há muitos anos. Entretanto, eu vejo nessas obras, apenas um grande poder de sedução por parte do autor em relação ao tema proposto: arte e política. Não vejo nelas relevância contemporânea.
Essa abordagem acadêmica confunde ainda mais a cabeça do público que procura entender e desvendar os mistérios da nossa complexa arte atual; na qual encontramos mais dúvidas do que certezas.
A relevância da arte contemporânea não está nos temas e sim nos processos criativos utilizados para representar esses temas, ou seja, o que realmente importa para a arte não é “o que” e sim “o como”.
O tema sedutor pode virar uma perigosa barreira e impedir ao autor de se manifestar como artista.
Polêmica a parte, trata-se de uma Bienal generosa, democrática e altamente estimulante para quem acompanha arte atual... Imperdível!!