A Semana de Arte Moderna pouco ou nenhuma ação desenvolveu no mundo das artes e da literatura. Nem com extrema boa vontade pode ser comparada à Vila Kyrial de quem pouco se fala. Veio pouco depois dos esforços de Freitas Vale a favor das artes entre nós, sem o brilho e o alcance da Vila, ràpidamente desvanecidos os sete dias hoje famosos, não fôsse o interesse dos Andradas em mantê-los na lembrança do respeitável público.

Os seus reais valores, conhecidos antes de 1922, como por exemplo Villa-Lobos e Brecheret, assustavam-se logo depois por longo espaço no exterior. O mesmo sucedeu com Anita Malfatti, Zina Aita e outros, de sorte a dificultar qualquer influência sua no meio onde a Vila Kyrial representava o grande incentivo a principiantes e cenáculo a consagrados.

 A nossa atual situação nas letras e nas artes, não muito desvanecedora em meio desanimadoramente subdesenvolvido, onde faltam críticos ( com exceção de Nogueira Moutinho), para guiar a opinião pública, professores para educar a mocidade, expoentes que possam combater a desagregadora faina de foles altamente nocivos, a misturar subvenção com arte e literatura, nada deve à Semana, a qual não deveria ultrapassar, caso ocorresse em ambiente superior ao nosso, apenas certa sediça curiosidade, tão só útil e autores de escasso valor.

 Pensar-se de modo diverso, crer que a Semana descobriu gênios e influiu na evolução das artes e das letras da Paulicéia e do Brasil, é imaginação de ingênuos, ou cálculo de espertinhos à espera de que as loas por êles dedicadas ao tal prodigioso acontecimento possam favorecê-los como sucedeu a outros beneficiários de blefes semelhantes aos do jôgo de poquer, mirificamente dadivosos para os que sabem aplicá-los.

 Yan de Almeida Prado

(depoimento de 1972)