1897 - 1976

Era um porão alto na praça da República. Alguns quadros de Di Cavalcanti, um busto de Brecheret e o gordo anfitrião Oswald de Andrade a descobrir gênios nos amigos. Di ainda era magro, mais caricaturista do que pintor e em busca de um tipo que, mais tarde, levaria ao de suas mulatas com tanta sensualidade pintadas. Quando ocasionalmente se lançava à pintura, empregava uma técnica impressionista a serviço de seu expressionismo natural. Davam-se bem os dois inquietos de 22, piadistas ambos e mordazes. E generosos também, e atentos a todas as novidades artísticas e políticas.

Os freqüentadores do porão eram tão diferentes de gestos e temperamentos que só mesmo a personalidade mais do que complexa, surrealista, de Oswald os podia reunir num mesmo local. Di comparecia às vezes, porém vivia mais no Rio do que em São Paulo. Encontrava-o também no apartamento de Guilherme de Almeida onde o grupo era mais homogêneo. Depois perdi-a de vista e só o fui rever em Paris, na Rotonde, ou nos cafés de Barbés-Rochechouart, bairro em que eu residia. E ocorria irmos parar na pensão de Brecheret, Avenida du Maine, ao lado do atelier de Brancusi.